domingo, 10 de agosto de 2008

o zoo III

Sem a certeza absoluta de estar vivo, estalo os ossos
dos dedos das mãos e ouço o som
com uma certa repulsa. E imagino os meus dedos
a serem arrancados, como se arranca a
dignidade a quem neste jardim tenta plantar outras
ideias.

Pelas ruas encardidas de lixo, as
varredeiras inventam dialectos em que palavrões
não são palavrões, são formas de discutir
política. Nas mesmas ruas, os casalinhos
fazem o seu freakshow, beijam-se apaixonadamente
para se separarem tumuluosamente no
dia seguinte.

Nos cafés, os empregados querem matar
os clientes, atiram com as chávenas e esquecem-se
dos pacotes de açúcar. As pessoas olham-se,
umas com nojo, outras a querer conversa,

há ainda as que lêem, provavelmente
porque querem saír deste jardim subterrâneo
onde até o sol tem medo
de existir.

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