terça-feira, 2 de setembro de 2008

repórter em campo

Já não sei como consigo adormecer
depois de tudo o que vejo ao longo do dia.

No escritório, mais um assalto à mão armada. Ao chegar
a casa, se ligo a televisão,
bancos foram assaltados, velhos foram burlados,
matou-se o director de uma empresa,
o suspeito fugiu,
fugiu porque não é suspeito, é culpado.

Vem o pivot pedir mais informações
a um repórter em campo. A população queixa-se,
querem segurança,
querem andar na rua sem medo de um tiro
ou de um sequestro. O governo esfrega as mãos,
encolhe os ombros, diminui as prisões.

E não sei quem está a enganar quem? O governo
engana as pessoas? Os suspeitos enganam
quem decide? Enganamo-nos todos?

Deito-me sem conseguir olhar nos olhos
o repórter do outro lado do ecrã. O que vejo,
todos os dias,
não me permite estar em campo, nem ver o sol. Penso apenas
em como é uma sorte
ter chegado a casa sem ter
sido baleado ou assaltado,
na melhor das hipoteses.

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